FELINA MÃE

19:18

A despeito da erótica significação simbólica, de joelhos e mão ao chão é tal qual todas de felina espécie. Dorso esbelto, quadril ágil, basto e forte, lapidado ao pulo e à batalha. Flancos de natural guerreira. E sob o sol brilha a sua pelagem artificial, de fibras de algodão e de sintético. E só brilham, sejam de opaco azul de bolinhas brancas, sejam rubras modelagens, porque estão sob o sol e sobre ti. Brilha discreta e ostensiva a sua pelagem. Pode ser? Discreta porque se basta segura e mulher, autoexplicativamente ostensiva só porque existe.
É felina decerto. Sendo do filo Chordata panteras e lobas, também ambas da classe Mammalia, da ordem Carnívora, a chordialidade da ambiguidade aí acaba. Em quatro patas, bigode e fucinho frio, não poderia ser cadela, fiel Amélia tenaz ao seres humanos [no masculino] na selva de pedra. Quis a natureza decerto que fosse felina, independente e viajada de tantas vidas, telhados, enlaces e lances, de concreto e situação.
Escaldada à medida correta, perversamente exata. Ou terá sido tangida à medida correta? Do que não lhe era justo ou cabível. Escaldada ou tangida, temperatura da água à parte, foi água que lhe trouxe, e ensinou-lhe essa mãe natural a ser fluida, poética, essencial, [pre]enchente.
Tudo em si evoca natureza, em que reino seja, evocando o mineral ou animal, é assim por dizer, naturalmente maternal. Veste-se de pelagem serena e viva para lamber a cria e este dever respira mesmo quando em longínquas terras, onde o chão não lhe é próprio, de onde a prole não lhe irrompeu, por afeto e alma, se entrega cálida a amorosa vigilância. E quão confortável é o teu mirar felino sobre a alma.
Desconfia obstinada quando ao prescrutar o íntimo, da prole ou da caça. Desconfia obstinada. Desconfia, onde não enxergam nada.
Corre livre e desbrava, deita indolente, dourando-se ao sol em terreno já conhecido. E porque já conhece, muito conhece, sorri. Por que felina máter? Há de 'sorrirdizer' que já embevece todo o terreno o seu ferormônio insolente, 'sorridiz' mais, espirituosa e sucinta: é meu, viu?!. E basta-se assim qualquer terreno, sob sua pelagem 'feliminina'.
Corre livre e desbrava! Aqui já sou eu, anônima, uníssona, plural voz que brada, em ode discreta, cotidiana, de viver sua companhia.
Corre livre, que é destino teu, sobre muitos territórios deitar indolente, dourando ao sol as mais doces palavras do seu 'sorrirdizer'.
Corre livre, porque a crônica mesquinha dos dias se poetiza na simples franqueza do movimentar do teu flanco.
Corre, querendo-se sempre livre, porque correr ensina aos filhos, porque correr é de suas pernas, porque ama de alma ir de quadril ritmado, de flanco guerreiro de encontro à liberdade, eterna.





"À Sâmia Felina Siso, máter felinos amor por excelência..."

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2 comentários

  1. Emocionada... tocada profundamente. Devo confessar que sinto-me mãe de muitas de vocês, sendo você uma delas. Mas, sem dúvida, de minhas filhas é a que mais se parece comigo. E dizendo assim, pareço me elogiar - como toda mãe que enche o ego ao ver um filho brilhar.
    Se há brilhantismo de minha parte é em reconhecê-la imensa! Mas fico aqui sorrindo admirada porque sei que quando crescer mais eu já nem mais saberei te medir!
    Muito obrigada, minha querida!

    Mami Sam.

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  2. A gente sempre se envaidece, ainda que secretamente, dos mimos e elogios de mãe... Você merece Mami Sam!

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