Hollywood - Ou breve biografia de 20 anos - Ou Feliz Ano Novo

11:44

Hollywood é o culto a que mais se devota um ethos fundamentalista. Iconoclasta e inquisidora com o aval plácido e alienado da nossa complacência e do discurso do progresso, da modernidade e da comunicação. Ai de quem lhe foge à regra e grito, da moda, é claro. Não a de Paris, claro, Chanel demais para o consumo de massa. E ainda por cima, árabes de etnias diversas é que são fundamentalistas, cegados pelo ódio. Pois nós somos cegados pelo dazzlement, pelo encantamento atroz do habitual happy end, do qual vivemos a tentar reproduzir corruptelas que sejam, para no fim do dia ou da vida dizer que houve um final feliz e você com suas amigas/meninas superpoderosas salvaram mais uma vez os vossos próprios dias.

Ou você e seus amigos/X-Mens detiveram mais uma vez o perigo da dominação e fim de seus próprios universos por outrem.
Mas, caso não seja linear e maniqueísta o suficiente para se subscrever à algum desses grupos, para definir-se em categorias habituais de sexo, gosto ou sociabilidade, resta-lhe ser personagem ambíguo, sempre mordaz e fútil suficiente para angariar boa crítica para a reprodução da mesma fórmula.

A despeito da constatação eivada de hormônios que acomentem a quem está sob a égide da maldição das filhas de Eva, esta maldição uterina, esta é, ou pretende ser, ou gostaria com ardor de ser uma mensagem de fim de ano. Não basta cansar das firulas sentimentais de que se utilizam todas as repetitivas mensagens de fim de ano. Se não tiver amor expansível o suficiente (leia-se perdão) na alma para enxergar com ternura o futuro e poder doar de si as melhores mensagens, bem escritas com amor fora do clichê anual, então, chute o pau da barraca e diga o que quiser. Mas utilize o aprendizado do ano passado: sinceridade acima de tudo e em qualquer ocasião é uma das maiores asneiras de todos os tempos. Se a mentira necessária não nos fosse divina - e a omissão deliberada é também uma mentira - todos os profetas teriam dito a verdade acima de tudo, em todas as circunstâncias, nunca teria omitido fato algum e - com a licença católica que me cabe - todos os papas nos seriam papais translúcidos.

Então chute o pau da barraca, mas borde a bordô e faça-me o favor de eufemizar as coisas. Há melindres necessários, um tanto pudicas e controversos, mas, o que seria do mundo sem a controvérsia dos costumes?

À parte a metalinguística do mensagismo que nos acomete a cada findar de ciclo, Hollywood não me escapa.

Sem o mínimo pudor em reconhecer que sou uma consumidora frustada, precocemente, e no precoce como advérbio não reside genialidade alguma - infelizmente - apenas uma tanto de decepção e perplexidade. Esperei à beira da estrada meu príncipe, comportada entre laços e polidez, como dizia mamãe que fazem as boas meninas. Esperei secretamente desde cedo, já que Hollywood disse em "Meu primeiro amor", com um inadequado Macauly Culkin, que amor não tem idade. Devia ter desconfiado. Era um esteriótipo desajustado, frágil e sonhador, mas era loiro e americano. Podia crescer, virar um nerd, bombar no Vale do Silício ou simplesmente emplacar um novo site de relacionamentos. Pausa para minhas autocomplacência: não dava para adivinhar com a idade contando com apenas um dígito.

Esperei, esperei, e quando um pseudo-protótipo aventou uma possível chegada eu já estava armada com as armas de Jorge, ou melhor, ainda não era de sua parte, à essa altura, cult era romper com a hegemonia católica e ir prestar culto a qualquer ícone hedonista. Eu era da parte de Georgia, Georgia Groome. Paciência. E eu não tinha paciência, e nem podia ter se entre mp3 e mp420 não percorreremos uma década.

O pseudo-protótipo de príncipe encontrou-me empoeirada da estrada, entediada, ansiosa e em posse do conhecimento de todos os artífices femininos da mulher moderna que se basta até entrar em casa, perceber que tem tudo menos um pseudo-amor. Vide Hollywood.

Deu merda. Claro e óbvio. Nós dois, pseudo-protótipos adolescentes de musical americano não resistimos à realidade opressiva dos baixos trópicos, do natural bronzeado que se convencionou determinar quem pode o quê.

Isto só para um breve exemplo de um happy end que caiu por terra.

Fiquei perplexa de como sou mesmo obrigada a viver sem trilha sonora implícita, e a sorrir desatenta enquanto todo mundo ouve da tela a trilha de tensão e terror. Fiquei perplexa em saber de que na plebe me espera a labuta diária e ela não me espera sonhar e levar tudo para a ilha de edição. É sonha - vive - sonha - sonhavivesonha - sonhasonhavivesonhavive e isso se não quiser pirar na normalidade de quem deflagra guerra por óleo preto que se vende a barril.
Mais perplexa ainda em gostar de descobrir que sou obrigada a viver sem maquiagem, só com aquele fino blush de hipocrisia necessária para não tirar das coisas a cor nem a pretensa civilidade.

Esta é a minha verborrágica e prolixa mensagem de fim de ano: Realidade, principalmente depois que parcelei em algumas vezes a compra dos meus óculos para meu par de miopia e astigmatismo.

Vi meu rosto mais manchado, mais marcado, minhas pernas mais desbotadas, mas, também vi que a última hidratação que dei tinha dado mais resultado do que eu tinha visto e meus cabelos estavam menos ressecados do que o normal. Afinal, não se pode ter tudo. Mas, não se negue a colocar os óculos. Hollywood só vale a pena enquanto entretém nossas mentes quando da overdose do que se vê pelos óculos. Realidade para sentir com ardor, para não se marionetizar e perceber que, no frigir dos ovos e no cair dos créditos finais, a sala ficou escura como o quarto dos seus medos infantis.

Realidade para não deixar de compadecer-se do outro e banalizar o dom que é essa controversa coisa chamada vida. Para sentir.

Não creia em Hollywood, a menos que você se case com Matthew McCounaghey.
Aliás não, também não dá para acreditar nas top models, mesmo que sejam brasileiras...
...Mas essa é outra divagação.


No mais, seja feliz, realmente feliz.

You Might Also Like

0 comentários

Populares

Like us on Facebook

Flickr Images