Cachorros Infiéis Americanos

22:06

Eu nunca tive um desses insights que fazem um físico descobrir uma teoria ou um cara humilde e empreendedor virar um milionário festejado por revistas de administradores.
Meus momentos luminosos são sempre de ordens mais fúteis, apesar da ânsia megalômana que me faz registrá-los com riqueza de detalhes sempre que é possível, em busca de uma idéia genial, que dará o sentido simples, inquestionável e dignificante à minha humana existência. Viu? Acabo de tentar de novo, sem sucesso e sem ser percebida.
Mas não é isto que me põe [metaforicamente] a pena à mão. É a infidelidade que me veio intrigar nestes últimos tempos. Em específico a cinematográfica. E acho que isto, minha indignação, se deve à minha inquietação com a continuidade das coisas e processos. Mesmo onde o onírico pode viajar eu quero uma certa constância, para atestar que nós humanos somos mesmo um tanto coerentes. Coisas do sol em touro quando do ato de nascer.
O fato é que, assistindo Carga Explosiva XXV (ou seria o III?) rememorei o I e fiquei sinceramente indignada com John Statham, profundamente. A oriental (alguém me ensine a diferenciar japoneses, chineses e coreanos, por favor) do primeiro filme era graciosa, rica, desprotegida, boazinha e passou por maus bocados ao lado dele. Era caso de firmar amor pra toda vida, casar e fazer lindos filhos de dupla nacionalidade que seriam feitos de reféns junto à sua mamãe gueixa [?]no Carga Explosiva II. No entanto, a atriz, a situação, o tesão e o amor foram transferidos à outra personagem feminina, que de tanta indignação [ou esquecimento] não recordo nome, pretensa nacionalidade ou beleza.
Se eu não estivesse há anos na fila me candidatando à condição de pessoa normal, arriscaria dizer que os homens não costumam associar tensão, adrenalina, tesão, sucesso e velocidade à continuidade, fidelidade e labuta diária que é manter um casamento e filhos. Talvez a orientalzinha [ela era baixinha?] engordasse e seus poéticos olhinhos encimados por pálpebras sem dobra desparecessem um pouco mais com os quilinhos ganhos na gravidez. E, talvez, ela não quisesse mais essa vida de sobressaltos, sangue e combustível e nem a sobriedade, máscula, imponente e gentil de Frank fosse capaz de mantê-la casada com ele. Talvez as crianças sofressem mais atentados que Fidel Castro.
Acho que minha indignação atingiu seu pico nas cenas finais de Carga Explosiva XXV [ou seria o III?] quando a linda russa Valentina [dessa eu lembro o nome] levou um acintoso soco no estômago por cuspir sua indignação, nojo e receio pela vida do sóbrio fortão bem na cara do vilão. Ela estava lá, de rímel e lápis de olho borrados por sua lágrimas cinematográfi cas, num efeito singular sobre sua pele branca cheia de sardas, quase tão vivas quanto o ruivo do seu cabelo. Estava lá, linda, com cara de saída do banho que lavou-lhe até a alma , mesmo o filme levando-nos a acreditar que a situação era tão crítica que não a teria permitido lavar aquelas curvas bem fornidas, quase brasileiras, durante dias. Ela estava lá, em momentos críticos, apanhou e permaneceu linda, linda e rica, mas, bem provavelmente, terá sido trocada na próxima sequência. Como se não bastasse, ela o fez quebrar várias de suas consagradas regras. Há quem diga que o amor é a suprema exceção às probabilidades. Um arrebatador outlier.
Por isso, cito Osama Bin Laden [ou seria Bin by Bush?], em seu célebre aposto raivosa mente presenteado aos americanos: “cachorros infiéis”. Não que seja ele um exemplo a ser seguido, mas o que deverá para sempre nos causar o saudável estranhamento nas ações dele é a extrapolação do que faltou o personagem de Statham: fidelidade. Guerras quantas sejam, perigos quanto haja, inimigos quanto os angarie, Bin permanece fiel a seus intentos, que segundo ele advém de seus ideais. Ao que parece, o sexy Frank, passa presencialmente muito mais perigo junto com suas parceiras do que Bin, mas se comporta como um cachorro infiel, que experimenta o que há de mais sensível, bonito e envolvente de cada nacionalidade, para, na ânsia do desbravador sem morada certa e coração e hábito de um território só, ir deitar na mesa ou na relva uma outra cultura sob sua imperativa virilidade dominante.
Há coisas que são simbólicas, não é, Tio Frank, seu cachorro infiel?!

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