#reconstruircidades

22:31

Naquele dia quente, de vermelho, de dúvida em punho, de convite por resposta, de uma empatia imediata eu já saí de casa trajada de entidade, rubra da cabeça aos pés, dúvida e fúria.
Nos meus incipientes 16 anos, um partido, uma causa, amainaria a fúria questionadora dos meus hormônios, meus ideais megalômanos e, só mesmo a mãe para dizer novamente que não.
Tropeçaria ainda muito e, não sei se pelo inicial gosto pelo poder, não sei se pelo ideais que me animam a vida, ou pela confusão insólita das duas vozes, vez por outra flertava com o Príncipe, flertava com bandeiras e causas. E a cor da pele sempre fazendo-se voz e verve, veia já. JÁ! Gritava em mim.
E ainda no mais tenro do namoro, o par queria beijar-me com bocas tantas, de vozes tantas, de outros corpos que não escolhi. Mas toda essa complexidade era o Príncipe e, mesmos os Plebeus Guerreiros, me vieram cortejar em uníssono e me queriam beijar com todas as suas línguas controversas. Dos Príncipes aos Plebeus Guerreiros eu os desejei em alma e armas. E o que me davam eles, além de cavalarias controversas, dos mesmos verbos imperativos, do outro estranho alienado a ser educado, a ser trazido, e no inverso ao discurso, moldado?
Lembro de minha mãe dizer que a política só ia desiludir meus sonhos, tirar meu sono, partir meu coração e seus ardores pueris. Certa que estava, a mãe assistia meus flertes, cônscia da queda e de sua necessidade sinistra em meu crescimento. Eu sentia seu olhar pesar sobre mim e sua ironia me esperando na esquina.
Um pouco mais velha, quem sabe a covardia ou o receio, o medo ou o ressentimento me ensinaram a pôr na boca as desculpas de que minha missão era reconstruir cidades. Pensava nos heróis, intensos, honrados, mas que, mesmo pelo bem, destruíam as cidades, deixando também de sua honradez o rastro da ira retificadora, o prejuízo do processo. Segundo meu argumento, minha palatável autoindução, a destruição do processo era da responsabilidade daqueles que se sentiam, que se faziam continuadores, em uma labuta diária, operária de reconstruir e continuar.
Esta seria eu, neste propósito nobre que renega a glória do heroísmo ou o protagonismo do mal.
Sabe-se lá a medida da verdade, mas, também do cimento que reconstrói a cidade eu sei pouco e da capa mágica, de alguma forma eu sinto saudade do que não houve, do front não visitado.
Sabe-se lá como continua a história...

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