Da recomposição

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Como vou dizer essas coisas sem vergonhosos clichês? Sem esbarrar em minhas metáforas gastas, em minhas pobres rimas implícitas? Que você colou pedacinho a pedacinho esse boleresco coração despedaçado. Qual criança, sentado frente a hercúlea tarefa que sempre é recompor que, ignorando saber não poder, pôde por uma arrogância pueril, destemida. Com os dedos lambuzados de cola, na sua obstinada tarefa de encaixes e ligações. Eu me detenho diante de sua expressão de meio sorriso, de tanta empatia, nesse suor sagrado e cotidiano que transpira nossa labuta, nossa aguerrida constituição. Eu me detenho e não me recordo que tenho o peito aberto e disposto em sua colagem. Estou mais forte do que nunca com esse peito aberto e só sou forte porque ele assim está, sangrando pela jornada. Eu olho o caminho atrás de nós e minha rubra marca identifica o chão. Todos os lugares são nossos e a nossa jornada andarilha anda em seus dedos, em meu peito, em nossa recomposição.
Tão menino, tão menino meu Deus... e já um mundo a sangrar em suas mãos.

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