Guaciara

17:02






Ainda outro dia Guaciara, e não se passaram muitas luas, eu ouvia sua boca amplificadora dizer-me dores que ainda assim, tão nuas e sinceras, estavam meio ditas, meio subentendidas e carregavam tanto tempo e seus momento... Só Deus sabe o que queria dizer-nos sua voz rouca, violando o silêncio que talvez o luto lhe quisesse impôr à boca. Encimava-a os olhos que eu vi sem ver e que choveram dor mais do que as águas que lavavam a cidade. Era uma insistente garoinha lá fora, que não rivalizou às suas torrentes gotas. Pudera: ela corria, você ponderava, paria história com seu presente atemporal. E lá fora, ela, tão inha, insistia silenciosa, talvez em respeito a seu pleito e intento, que na voz rouca se dizia relato. Já lá naquele dia me disseram que você havia sido forjada no aço, na guerra, mas que seu coração podia deixar-se toldar pela dor da forja, pelos horrores de uma guerra sem fim.
Eu não era mais do que sempre fui: uma menina de destra duvidosa, de esquerda controversa, pesando dúvidas na insuficiência dos meus passos. Mas eu lhe ouvia bebendo as sílabas como se levantassem, letra a letra, coisas que só o chão e o caminho dizem. Foi assim que andei seus desconhecidos passos e lhe quis bem nessa trajetória desvairada.
E o mundo tresloucando lá fora, úmido, também lá dentro, para sempre.

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