Vertigem

23:44



Conhecia pouco as pedras, um pouco mais que a média, por demorar-se em observá-las sempre que podia, por puro prazer. Mas foi fora de seus cuidados habituais, aprendidos às duras provas, que milimetricamente, num ato único, prenhe de tantos outros, chutou a pedra penhasco abaixo, porque como tantas outras, que não ousou sequer soprar, não era assim tão bonita, como a vida não é assim tão fácil. A pedra rolou sinistra, convidando seus pares no caminho íngreme.
Primeiro não sentiu mais que uma desconfortável instabilidade em seu pedaço de chão. Menos ainda porque os pés experientes, apesar do ato inconsequente, soube mensurar como rolariam as pedras a seu redor. Mas não esperava que, rolando as pedras, seu corpo se precipitasse em um rasante profundo, inesperado. As entranhas, já desacostumadas aos mergulhos no nada, sofreram aflitas o enjoo-prenúncio, o medo e o mundo debaixo de si ameaçando dor. De repente, de novo os olhos se valiam apreensivos do bico para cortar o ar em afronta. As penas velhas, também porque ancestrais mas tão novas, tão cansadas, já não sabiam decifrar ar. Sabiam só do sabor conhecido do tudo abaixo de si, logo depois do vasto vazio, da intempérie de chofre.
O corpo pressentiu chão, dor e sangue. A expansão lacerante do desacostumado corpo. A meio caminho percebeu que caía do alto, porque lá estivera, mesmo crendo não mais poder planar depois de sinceros rasantes ousados. Nunca pôde evitar que tão montanha pranteasse ratos.
Sabe lá o chão...





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