Preces por Arthur

11:17






Soube depois de tanto tempo que ele ia nascer.   Mas não achou estranho que, filho de quem era, antes de vir à arena se sentasse a meditar, como revelou a mãe de um menino com nome de príncipe aguerrido. Ficou foi aflita, de frio na barriga e preocupação no cenho. Que menino dodjo! Exclamou em pleno ponto de ônibus angariando uns olhares de lado e a certeza própria de que a mãe daquele menino estava tecida em sua história e vocabulário. Era da mãe do menino o costume de exclamar assim.
Procurou apascentar-se com os argumentos da mãe, da sua própria mãe. Lembrou-se dela irrompendo em preces católicas assertivas e diretas, que só faltavam enviar um manual descritivo ao Supremo Nego de que tranquilidades presentear ao nascimento daquele Arthur. E foi assim, rápida e assertiva como se, mãe de loga data que é, conhecesse já de cor e salteado o extenso Catálogo de Aflições das Mães.
Sabia que, por falta de experiência e traquejo não alcançaria a fluidez da mãe, mas no caminho de tamanho mediano até o amor, decidiu-se pelas preces por Arthur.
16:48, daqui a poucos minutos, caos, Arthur! Instou-se a ser rápida, perguntando-se quão profunda conseguiria ser, se o que pairava no fundo de seu parâmetro era sua mãe e suas catequistas e suas preces tão necessárias, que no nosso cotidiano se assemelhavam ao rogo contra a fome no mundo. 16:52 transpiravam aquela fina camada de suor ansioso. Que menino dodjo! Que se deixa programar a nascer em dia comum, com todas as mesquinhezas e pequenas coisas do mundo em curso protocolar obrigatório. Arthur... talhava-se ao nome. Ela vestida para cumprir compromissos de amor e estudo, com um roteiro a seguir e, no meio do nem tão turbilhão, a objetivação de prece bagunçando seu saber fazer.
Muito bem, tudo bem, uma prece não é algo tão difícil de se fazer, e a cinco minutos prováveis dele começar a nascer, era tempo de encomendar uma vinda abençoada sem delongas. Fê-la bem repetir para si que Deus não se importaria com a forma, mas com sua fé... Parou por aí, nessa dificuldade do conceito de fé e as ambiguidades culturais com o religare. Invocou sua posição de filha, aqueles velhos papos sobre imaturidade e compreensão divina e, veja bem, Supremo Nego... é uma criança, nem mesmo uma cria já mimada e versada em manipulações. Indefeso, no que há de mais rechonchudo e gostosinho da palavra. Perdoe e Facilite.
E aquilo ficando muito difícil, de repente, fluiu, da previsível forma de uma conversa, umas assunções humildes de não saber e uns rasgos ainda mais previsíveis de frases de efeitos de uma mente razoavelmente treinada a convencer. Estou lutando Arthur, com você, comporte-se, ela pediu, como pediu que Deus desse-lhe a inspiração para conversarem da mesma forma que os pais fornecem dinheiro para os presentes de suas datas comemorativas.
Cantou um pouquinho e dispersou algumas vezes, imaginando um menino mais velho, situações outras, capitalizadas pela revisão que aquele menino dodjo a fazia empreender no rogo por prioridades e desejos para o futuro.
Até cantar um pedacinho dodjo que não conhecia, uma pequena prece e uma bronca branda para aquela meditação fora de hora.
Enfim tranquila, entendeu o recado.


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