Das grandes desilusões

18:12




Me senti profundamente traída. Coisas tão desnecessárias... e, por isso, cruéis.
Eu desejava pouco, apesar de ser capaz de grandes ambições.
O que me fascinava mesmo era poder tirar um talho do vermelho delícia da melancia e, com a mesma faca operar aquela esporádica mágica sensual, com a habilidade de trazer a faca à boca e num segundo distraído retrair a língua com displicência.
Pouco mais que isso, queria ser cúmplice dos olhares eloquentes que conversavam sugestivos acima de nossas cabeças.
E, talvez, de maior monta, só aquele desejo de estar sob a chuva de tarde, de chupar picolé de noite e provar das delícias que, num contato tímido, fechavam os olhos dos protagonistas.
Tudo sem prévia permissão. Improvisando como se a vida me pertencesse. E, de fato, ela me pertenceria. Saborosa e espontânea. Cheias de madrugadas e palavras.
Mas, eis que só retraio a língua na obediência à faca.
Como podem as desilusões trançarem-se aos sonhos?

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